A nova Head Coach do América Locomotiva é uma mulher. E que mulher, senhoras e senhores!
Apelidada desde cedo como “Animal”, a canadense Jenn De Guise é a primeira Head Coach mulher da modalidade full pads da elite do FABr em solo tupiniquim. Ainda mais, de uma das equipes mais tradicionais da elite do futebol americano nacional. Fizemos uma entrevista com ela para conhecer sua trajetória até aqui.
TD Mineiro: Como você começou a jogar Futebol Americano, e em quais times você jogou no Canadá?
Jenn: Eu sempre gostei de Futebol, desde criança. Joguei flag futebol na escola, pois era o que tínhamos disponível. Quando fui para a universidade eu escolhi jogar rúgbi, porque eu queria bater em alguém e na minha primeira temporada no rúgbi, me chamaram para jogar futebol americano (full pads), e eu não sabia dessa existência. Então, onde eu jogo?!
No meu primeiro time, eu comecei como fullback, e depois joguei como DE, e depois os coaches me mudaram para LB.
Joguei na Liga IWFL, pelo Montreal Blitz. Em 2010, no primeiro Mundial feminino, eu fiz seletiva para seleção canadense, passei e fui capitã na competição na Suíça. Fui capitã por 8 anos do Montreal Blitz. Sendo 2010 meu melhor ano como atleta. Fui MVP pelo número de interceptações no jogo Canadá x Suécia e fiz o TD da vitória. Ganhamos da Alemanha, e disputamos contra os USA ficando em segundo lugar. E ainda em 2010, fui nomeada para o time All Star do Mundial. Pelo Blitz chegamos à 3 finais e ganhamos 2, (Chicago e Texas), liderei a IWFL em 2010 com o maior número de sacks. No mundial de 2013 eu joguei pelo Canadá e ficamos novamente em segundo colocado.
TD Mineiro: Por que você veio ao Brasil?
Jenn: Eu vim para o Brasil para ministrar aulas. No Canadá eu sou professora de Educação Física e fui coach de futebol americano em escolas. Eu amo o Brasil e quando tive a oportunidade de voltar para um programa de ensino canadense eu não pude recusar. Eu já estive no Brasil há 4 anos em São Luís, MA. Quando falei que voltaria minha mãe me questionou e me disse que aqui não havia futebol, mas eu disse “eu vou achar!”, e com certeza eu achei! Com 8 dias em Belo Horizonte eu achei o Minas Locomotiva (atual América Locomotiva).
TD Mineiro: Quando você chegou em 2017, e descobriu o Locomotiva, você sabia da existência de outras equipes na cidade?
Jenn: Sim. Eu sabia da existência do Eagles e do Locomotiva.
TD Mineiro: O que te fez escolher o Locomotiva?
Jenn: Eu contatei os dois times para ver se poderia ver os treinos e ajudar em algo, e a resposta que eu obtive do Locomotiva foi muito mais positiva e convidativa.
TD Mineiro: Agora como HC do Locomotiva, o que você planeja para o time?
Jenn: Eu quero desafiar os coaches a serem melhores. Quero desafiar os jogadores a aprenderem mais sobre o jogo e melhorar suas habilidades, acreditar neles mesmos e que eles podem sim jogar em um nível mais alto, se eles quiserem, pois eles têm o potencial.
TD Mineiro: O que você acha que vai ser a maior dificuldade?
Jenn: Eu acho que a maior dificuldade para eles é fazer aquilo que eles não acreditam que podem fazer, então incentivar que eles aprendam mais em sala, forçar além das limitações físicas, fazer com que eles acreditem que podem ser os jogadores que eles querem ser, mas que não chegaram lá ainda.
TD Mineiro: Você tem conhecimento de outros times no Brasil, além de Minas Gerais? O que você acha dos times de Minas?
Jenn: Eu acho que é incrível de ver como o esporte é grande no Brasil, e quantos times existem no país. Me Lembra a IWFL, pois temos tantos times jogando em várias níveis diferentes. E é muito normal em um país onde o esporte é novo. O futebol no Brasil continua evoluindo e continua melhorando, não só nos times, mas na popularidade com os fãs e é maravilhoso ver o esporte ficando popular pelo mundo. E vejo muitas similaridades com o esporte daqui com a liga feminina há 20 anos quando eu comecei a jogar. Era uma coisa nova, um novo esporte, times que ganhavam dinheiro, outros que sofriam para ter dinheiro e pagar um ônibus para jogar. Eu sei exatamente o que o futebol no Brasil está passando, e acho que sei onde podem ser ajudados. E é aí que quero ajudar o Locomotiva, porque eu estive ali, eu fiz isso, a mesma coisa por muitos anos. Sei as dificuldades e como ajudar a superá-las.
TD Mineiro: O que você acha sobre arbitragem?
Jenn: Eu acho que uma área que o Brasil tem muito espaço para melhorar é em relação aos árbitros e é uma luta, pois o esporte é tão novo, que não existem muitas pessoas com experiência, jogando, treinando e passando a experiência que os árbitros têm no Norte da América, por ter uma vida de experiência no esporte. Temos esses árbitros lendo livros e chegando para apitar sem nunca ter colocado pads, eles não sabem como é sentir um holding ou como parece e eu acho esse tipo de conhecimento que falta. Não se pode ler um livro e saber algo para a maioria das profissões. Você não pode ser um médico somente lendo um livro, ou ler um livro e ser piloto, então como esperar que nossos árbitros apitam jogos só por lerem um livro?! Como então esperar que eles sejam árbitros somente lendo um livro? Isso não funciona, e é onde o conhecimento e experiência fazem falta, e pode estar constringindo o esporte de evoluir. Temos jogadores trabalhando muito para melhorar, coaches trabalhando e estudando muito para melhorar o seu jogo e o esporte, e as vezes estamos sendo restringidos pela arbitragem.
TD Mineiro: Sábado tem Minas Bowl V, o que você espera desse jogo?
Jenn: Eu creio que teremos muitas surpresas! Nosso time tem um potencial enorme e podemos fazer um grande estrago se os jogadores acreditarem que eles podem fazer o estrago que eu sei que eles podem fazer.
TD Mineiro: Você sabia que esse ano é o primeiro ano de uma liga feminina na BFA para mulheres na modalidade full pads? E o que você acha disso?
Jenn: Uau! Eu acho que é absolutamente maravilhoso! Porque quando eu comecei a jogar Futebol Americano, eu não sabia que existia para mulheres. Quando fomos para o Mundial em 2010 eu fiquei tão feliz de ver que haviam outros países jogando futebol, e ainda descobrir que muitos outros jogavam futebol, mas que eles não tinham a estrutura financeira para enviarem suas seleções. E no segundo Mundial o número triplicou de países participantes e continua crescendo por todo mundo, e é maravilhoso ver mulheres quebrando barreiras pelo mundo. Infiltrar nesse jogo de homens, nesse mundo de homens, há 20, se você mencionasse qualquer mulher em qualquer coisa do Futebol Americano, as pessoas iam rir! Eles pensavam que isso nunca iria acontecer, mas agora essas barreiras estão caindo com Jen Welter (NFL Cardinals Coach), e também com árbitras na NFL. Minha colega de time recentemente foi a primeira árbitra da CFL (Canadian Futebol League).
TD Mineiro: Você sabe que é a primeira Head Coach mulher na modalidade full pads aqui no Brasil?
Jenn: E acabei de descobrir isso, e me deixa muito orgulhosa em ver mulheres assumindo papéis tão importantes nesse mundo de homens e é maravilhoso ver que mulheres podem fazer coisas que homens fazem, e nós estamos fazendo. As pessoas só não sabem que estamos fazendo.
Nesse sábado (15) será a estreia da Jenn como HC do América Locomotiva. Seu primeiro jogo já é uma final estadual. O Minas Bowl V entre América Locomotiva e Galo FA será na Arena Independência com transmissão da Bandsports. O kickoff é as 16h.