O FABR PRÓXIMO DO FIM?

Há muito tempo nós falamos e brincamos que o FABR tem que acabar. Talvez, devido a essa pandemia do Coronavirus acontecerá algo próximo disso nos meses que estão por vir.

O desafio que se estende diante do futebol americano no Brasil, considerado um esporte amador nas terras tupiniquins, não será das mais fáceis e dependerá muito da união, negociação, concessões, cooperação e gestão das crises internas por parte dos presidentes das equipes, federações, BFA e CBFA para a sobrevivência da prática esportiva em nosso País.

Independente das ações que o governo federal, estadual e municipal adotarem, e falando por alto, haverá recessão econômica, aumento do desemprego, desvalorização da moeda e perda do poder de compra. A grande maioria das equipes no FABR tem como principal fonte de renda a arrecadação da mensalidade vinda de seus atletas, seguido da captação de recursos oriundos de seus patrocinadores, apoiadores e receita das vendas de ingressos, comida e bebida em dias de jogos (que muita das vezes são pequenas).

Com a recessão econômica e o crescente número de desempregados, os atletas terão que rever as suas prioridades, visto que no FABR ninguém faz isso por eles. A estimativa é que muitos deixem de praticar o esporte impactando assim a arrecadação financeira das equipes e comprometendo os compromissos financeiros das instituições. Além disso, com um número menor de atletas em atividade, muitas equipes não terão quórum suficiente para disputar campeonatos e ainda que os tenha, os demais atletas que permanecerem irão arcar com um valor maior, por exemplo, quando tiverem que viajar para jogar. Neste ponto teremos uma série de fusões entre as equipes assim como ocorreu na história da NFL nos períodos de guerra.

A sobrevivência das times dependerá de “N” fatores, mas um ponto decisivo será a gestão administrativa, algo que a muitos anos venho pontuando como parte importante para o desenvolvimento de uma equipe no FABR. Se não tiver atletas o suficiente os times irão interromper as suas atividades por tempo indeterminado e muitas, acredito eu, jamais irão retornar aos gramados. Se continuar com um quórum reduzido, a diretoria e comissão técnica terão que reavaliar os seus planejamentos a curto, médio e longo prazo, inclusive sobre quais competições irão ou não participar. Ainda sobre a arrecadação financeira, com a crise mundial que está por vir é provável que muitas empresas deixem de investir no esporte por questões de prioridades e sobrevivência do negócio, complicando ainda mais a situação dos times.

As federações, para o próximo ano, terão de rever algumas ações para fomento da modalidade esportiva e, consequentemente, sobre os valores cobrados das equipes filiadas uma vez que muitas podem interromper as suas atividades por tempo indeterminado. Assim como os times, as federações podem vir a perder patrocinadores e parcerias neste período.

A BFA, que atualmente detém a chancela da CBFA para a realização dos campeonatos da BFA Elite, Norte e Feminino (do Acesso, a pedido dos times, não possui mais), sofrerá com uma arrecadação menor, visto que teremos menos atletas e equipes participantes. Para piorar ainda mais o cenário, o orçamento para a temporada de 2020 custará algo em torno de R$ 305,512.00, sem mencionar os R$ 40,000.00 que ainda são devidos a CBFA referente ao empréstimo feito em 2019. A BFA ainda tem uma outra crise em mãos para resolver. Atualmente tem havido questionamentos da comunidade sobre os valores destinados ao pagamento dos gestores da BFA (cerca de 2/3 do valor total previsto em orçamento) e o retorno da Liga Nacional e o surgimento da Taça Brasil com uma nova proposta de gerenciamento da competição a nível nacional. No Acesso e na Elite algumas equipes desistiram devido aos valores cobrados e processo de reestruturação dos clubes.

Federações, empresas privadas que organizam campeonatos estaduais e a BFA ainda tem um problema em comum para solucionar. Com a paralisação das atividades esportivas no Brasil e interrupção dos campeonatos, quando essa pandemia chegar ao final já estaremos, provavelmente, entrando no calendário dos campeonatos nacionais. Embora seja um boato e no FABR os boatos tendem a ter um fundo de verdade, especula-se que os jogos estaduais e nacionais ocorreram no mesmo período, mas talvez com uma quantidade de jogos menores. Abstenho-me aqui de dizer o quão imprudente será essa medida por diversos pontos.

A CBFA talvez seja a única neste cenário desastroso que por hora não sentirá o impacto a curto prazo. A gestão do presidente Ítalo Mingoni tem se mostrado eficaz e eficiente, além de bem vista pelo FABR. Colocar a “casa” em dia demanda tempo e existem processos que são mais vagarosos, mas a recente parceria com a CFL e a realização do Combine em Belo Horizonte/MG foram, até o presente momento, o ápice de sua gestão e motivo para celebração.

E apenas a título de curiosidade até nos esportes profissionais a situação não é das melhores. Com uma rápida pesquisa no Google você verá que renomadas equipes de futebol em todo mundo falam que provavelmente irão decretar falência, enquanto outras sofrerão severas punições por não conseguirem cumprir com todos os compromissos, dentro e fora de campo. Se para eles que são profissionais está difícil, imagina para o futebol americano no Brasil que é um esporte amador.

Um mal que pode se alastrar ainda mais no FABR é o surgimento de figuras messiânicas com propostas e promessas que, a princípio, podem ser a solução para os problemas que estão por vir. Porém, recomendo a todos, principalmente aos gestores a frente das equipes que são os primeiros a serem iludidos, que façam uma breve consulta na história do futebol americano no Brasil, que surgiu em 1986 nas areias de Copacabana e que até hoje aguarda a chegada dos shoulders do México.

Vamos aguardar os próximos capítulos a serem escritos na história do FABR.

Foto: Emanuelle Mattos Fotografia

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